Marvel pode tomar medidas contra uso da caveira do Justiceiro por policiais

Os protestos antirracistas que se espalharem pelos EUA na última semana, após a morte do cidadão negro George Floyd pelo policial branco Derek Chauvin, reacenderam uma antiga controvérsia que envolve o uso da caveira símbolo do personagem Justiceiro por integrantes das forças policiais. Em meio a repressão dos policias aos protestos dos últimos dias, alguns deles usavam a iconografia do personagem, o que motivou uma campanha online, encampada por vários quadrinistas, para que a Disney proíba o uso do símbolo por agentes da lei.
Após o anúncio de que a Disney vai doar US$ 5 milhões à organizações que promovem a busca por justiça social e a implementação de igualdade racial no país, o quadrinista Matt Wilson tweetou:
“Disney teve uma receita de aproximadamente US$ 70 bilhões em 2019. US$ 5 milhões é 0,007 disso…”
If Disney and Marvel really want to make a big gesture right now (besides committing $100 million to causes instead of 5), they could immediately demand police stop using the Punisher logo and sue departments that continue to
— Matt D. Wilson (@TheMattDWilson) June 3, 2020
“Se a Disney e a Marvel querem realmente fazer um grande gesto agora (além de se comprometer com US$ 100 milhões, ao invés de US$ 5 milhões), eles poderiam imediatamente exigir que a policia pare de usar o logo do Justiceiro e processar departamentos que continuem a usar.”
A proposta de Wilson contou com o apoio de vários quadrinistas, incluindo Gerry Conway, o cocriador do Justiceiro.
“Eu estou procurando por jovens quadrinistas de cor que queiram participar de um pequeno projeto de arrecadação de fundos para o Black Live Matters para reclamar a caveira do Justiceiro como um símbolo de justiça ao invés de opressão policial.”
I'm looking for young comic book artists of color who'd like to participate in a small fundraising project for #BLM to reclaim the Punisher skull as a symbol of justice rather than lawless police oppression. Respond and follow so we can DM. https://t.co/QqnHNiPvzw
— Gerry Conway (@gerryconway) June 5, 2020
Mas e a Marvel? O site io9 (via Gizmodo) procurou a Marvel para saber de que forma a companhia estaria se posicionando, e um porta-voz disse que a Marvel está “levando a sério” tomar medidas contra o uso ilegal da caveira do Justiceiro, que é uma de suas propriedades intelectuais.
Em janeiro de 2019, em entrevista ao SyFy Wire, Gerry Conway já tinha criticado duramente o uso da iconografia do Justiceiro por policiais.
“Para mim, é perturbador ver figuras de autoridade abraçando a iconografia do Justiceiro porque o Justiceiro representa a falha do sistema de justiça. Ele deveria indicar o colapso da moral da autoridade social e a realidade de alguns pessoas que não podem depender das instituições como polícia ou militares para agir de maneira justa e capaz.
O anti-herói vigilante é fundamentalmente uma crítica ao sistema de justiça, um exemplo da falha social, então quando policiais colocam a caveira do Justiceiro em seus carros ou integrantes das forças armadas usam distintivos com a caveira do Justiceiro eles estão basicamente se colocando como inimigos do sistema. Eles estão abraçando a mentalidade de um fora da lei. Quer que as atitudes do Justiceiro sejam justificáveis ou não, quer você admire seu código de ética, ele é um fora da lei. Ele é um criminoso. Policiais não deveriam abraçar um criminoso como seu símbolo.
De certo modo, isso é tão ofensivo quanto colocar uma bandeira confederada em um prédio governamental. Meu ponto de vista é, o Justiceiro é um anti-herói, alguém por quem podemos torcer ainda que lembrando que ele é um fora da lei e um criminoso. Se um policial, um representante do sistema de justiça, coloca o símbolo de um criminoso em seu carro, ele ou ela estão fazendo uma propaganda muito perturbadora de seu entendimento sobre a lei.”
Em Punisher #13, publicada em julho de 2019, e escrita por Matthew Rosenberg, o Justiceiro encontra alguns policias que se revelam integrantes de um fã-clube seu e tentam tirar selfies com ele. O que estes não imaginavam é que Castle estabelecesse uma diferença bem clara entre ele e aqueles que são agentes da lei.
“Eu vou dizer só uma vez”, começa Castle. “Nós não somos iguais. Vocês fizeram um juramento de manter a lei. Vocês ajudam pessoas. Eu desisti de tudo isso há muito tempo. Vocês não fazem o que eu faço. Vocês precisam de um modelo a seguir? Seu nome é Capitão América, e ele ficará feliz em contar com vocês… Se vocês tentarem fazer o que eu faço, na próxima vez, eu virei atrás de vocês.”